Os tempos são bicudos, as dificuldades imensas, o custo de vida alto, as intolerâncias cada vez mais aguçadas e maiores, os homens se confrontam sem piedade, sem ouvir. A arma para rebater o argumento do outro é a agressão, que tanto pode ser física ou moral. Estamos diante de total e absoluto destempero, desrespeito e confronto direto.
Claro que não se trata de um absolutismo total, mas há uma grande maioria inclinada a viver em constante guerra e conflito por suas ideias. Será preciso reencontrar a razão do bem para contrapor aos que nutrem somente ódio e divisão de classes. Esta é uma tarefa difícil, afinal não existem mais nenhum Mahatama Gandhi que usava a resistência não violenta para liderar uma campanha pelo bem.
Nota-se claramente uma ideologia ressentida, que talvez ao se chocar com personalidades cultas, enxerga algo que instiga suas fobias, pois a cultura é vista neste campo como algo desprezível, que execra as minorias esquecidas.
A lembrança boa não pode morrer, o suor precisa continuar escorrendo e molhando a calçada. A verdade precisa do povo e da rua, embora nada de novo ainda tenha acontecido. A revolta latente que quase ninguém vê e não sente, está represada em algum lugar misterioso. Mas o imposto e a conta não dão tréguas, crescem vigorosamente. O relógio está apontando um momento que virá, e que ainda não sabemos. Pode estar próximo, ou estará distante?
O compromisso social cedeu a uma receita de suposta austeridade, que, entretanto, causa grave desagregação social, acumulando riqueza para poucos e miséria para muitos, produzindo mais conflitos do que consenso
O sapato está apertando enquanto alguns não querem enxergar a sombra morta. Há alguém que pode trazer uma mensagem estranha, talvez com um rosto santo e com um canto lindo, alguém que desceu no tempo e que pode ter subido na vida.
Mas ainda encontro tempo para relembrar uma das mais lindas poesias de Frei Tito, que se resume assim:
Quando secar o rio de minha infância,
secará toda dor.
Quando os regatos límpidos de meu ser secarem, minh’alma perderá sua força.
Buscarei, então, pastagens distantes
Irei onde o ódio não tem teto para repousar.
Ali, erguerei uma tenda junto aos bosques.
Todas as tardes me deitarei na relva,
e nos dias silenciosos farei minha oração:
Meu eterno canto de amor: expressão pura de minha mais profunda angústia
Nos dias primaveris, colherei flores para
meu jardim da saudade.
Assim, exterminarei a lembrança de um passado sombrio.