Quem não soube a sombra não sabe a luz

“Hoje, trago em meu corpo as marcas do meu tempo…”, escreveu Taiguara (1945-1996) na canção “Hoje”, em 1969. Aos sessenta anos entendo melhor o que este verso pretendia dizer. Na época, com dez/onze anos, gostei, mas não compreendia razoavelmente a dimensão das palavras. No auge da repressão da ditadura militar, ainda criança, eu achava estranho o que o poeta pretendia dizer, na mesma canção, “Eu não queria a juventude assim perdida…”.
Taiguara nasceu no Uruguai, viveu em Porto Alegre na juventude e foi poeta, instrumentista, compositor, cantor e um dos mais contundentes questionadores da ditadura, cantando com suavidade única. Talvez por isso tenha sido tão perseguido e censurado, num tempo em que ser seguido pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) não significava coisa boa. Melhor era não ser seguido.
Andei revisitando Taiguara no YouTube. A internet pode ser interessante para quem sabe o que procurar na mesma. Encontrei, entre outras, a canção “Teu sonho não acabou”. Interessante. Dia desses andei cantando, também de Taiguara, Universo no teu corpo, “Não existe esta manhã que eu perseguia/ Um lugar que me dê trégua ou me sorria/ E uma gente que não viva só pra si”.
Em “Teu sonho não acabou”, 1981, encontrei o verso do título, “Quem não soube a sombra não sabe a luz”.
Nestes tempos em que parece estarem os jovens e os não tão jovens assim perdidos, ouvir Taiguara cantar me faz refletir: “Hoje a minha pele já não tem cor/Vivo a minha vida seja onde for/Hoje entrei na dança e não vou sair/Vem, eu sou criança não sei fingir”. É que, por mais que eu tente, não há como “sair da dança”.
“Lá onde eu estive o sonho acabou/Cá, onde te encontro só começou/Lá colhi uma estrela pra te trazer/Pegue o brilho dela até entender”.
Pregando o ódio se pode chegar ao poder e ficar nele por algum tempo.
Taiguara escreveu “Só feche seu livro quem já aprendeu/Só peça outro amor quem já deu do seu”. Aos que “Vão ao inferno à procura de luz”, como escreveu Lupicínio Rodrigues, Taiguara alertou, “Quem não soube a sombra não sabe a luz”. E concluiu, “Nós precisamos, precisamos sim/Você de mim, eu de você”.

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