CORONAVÍRUS

Segundo infectologista-chefe da Santa Casa de Bagé, é essencial utilizar água e sabão para eliminar o vírus

Paula Martinez é a médica responsável pelo setor de infectologia da instituição bageense Foto: Divulgação TP

Nesta semana, para encerrar a série sobre o coronavírus divulgada na edição impressa, a reportagem do Tribuna do Pampa procurou a infectologista­-chefe da Santa Casa de Caridade de Bagé, Paula Martinez, para responder uma série de dúvidas que surgem diariamente – nas redes sociais, nas trocas de mensagens por aplicativos e até naquele rápido bate-papo nas filas dos supermerca­dos, onde as pessoas se encontram frequentemente por se tratar de uma necessidade básica.

Além de ter acompanhado a proliferação do vírus no próprio ambiente de trabalho – o primeiro caso da Covid-19 na Rainha da Fronteira foi o provedor da Santa Casa – a médica também tem no currículo a atuação no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Santa Maria durante o incêndio da Boate Kiss e os seis mil casos da epidemia de toxoplasmose no mesmo município em 2018.

Diante das diversas ques­tões levantadas pela reportagem, Martinez foi bastante insistente e objetiva na solução: “água e sabão”. Ela disse que esses são os ingredientes essenciais para cui­dado tanto pessoal, quanto com os Equipamentos de Proteção Indivi­dual (EPIs) e produtos trazidos do supermercado, por exemplo.

– Quem já se infectou, pode se infectar e também transmitir novamente a Covid-19? Sim, é a mesma ideia de uma gripe. Par­timos dos sintomas de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que é o que buscamos detectar nos pacientes, e se a pessoa for exposta novamente ao vírus ela vai estar sujeita a uma nova contaminação, assim como, consequentemente, transmissão para quem estiver em contato.

– O vírus fica no ar ou apenas em superfícies? No caso de um paciente infectado ter frequentado um restaurante, o local todo pode estar contaminado? Não, eu entrar em um ambiente onde exista alguém com o vírus não significa que eu ou o ambiente esteja contaminado. O contato com o paciente precisa ser de menos de um metro e meio por mais de 40 minutos. A contaminação é por contato; contaminação aérea acontece somente através da gotícula de saliva: até onde ela alcançar é o que está suscetível à contaminação – no caso de roupas e objetos – e para uma pessoa se contaminar dessa forma, só se, a partir disso, ela tocar na boca, nariz e olhos. Outra questão é que, se a pessoa com o vírus espirrar em cima de um buffet por quilo, as outras comem o vírus e isso acarreta mais em sintomas gastrointestinais do que respiratórios – por isso diarreia também é um sintoma de coronavírus.

– Como diferenciar uma crise alérgica dos sintomas do coronavírus? Quais sinais de alerta? Alergia, em geral, o paciente sempre tem. O que vem além da alergia que a pessoa já está acostumada é o sinal de alerta: dor no corpo, febre, espirro, tosse, coriza, mal-estar. Quem vai conseguir ter essa consciência sobre o que sente é o próprio paciente. Por isso é importante entender essa definição de gripe, que vai além dos sintomas da rinite.

– Existe alguma diferença (em relação à eficiência) entre lavar as mãos com água e sabão e o álcool em gel 70%? Não existe diferença, o que eu costumo dizer é que o problema está em as pessoas não fazerem uso correto de nenhum dos dois. O que mata o vírus, no caso do álcool, não é o frescor que ele gera nas mãos, é preciso fazer uma fricção de pelo menos 30 segundos desse produto em todo punho, palma, dorso, dedos e entre os dedos e o tempo precisa ser respeitado, eu recomendo sempre cantar o “parabéns pra você”. Água e sabão é a mesma coisa e tão eficiente quanto.

– Há necessidade de desinfectar embalagens recém trazidas do supermercado? Como proceder com as frutas e legumes? Quais procedimentos para higienização das roupas e calçados após utilização? E as máscaras? Sim, há necessidade dessa higienização. Em todos os casos, inclusive em relação às máscaras, aqueles dois ingredientes são suficientes: água e sabão.

– Qual a recomendação sobre o uso de máscara em locais abertos como ruas e parques? Se estou sozinho no meio da lavoura, por exemplo, preciso usar? Em um parque, onde as pessoas estão longe umas das outras, também preciso? Não é possível colocar muitas exceções. Se começarmos a dizer que na rua pode sair sem máscara porque não vai encontrar ninguém, quem garante isso? E se encontrar e se contaminar? A recomendação é sair sempre com a máscara para não errar, é muito importante que as pessoas tenham consciência dessa necessidade.

– As barreiras sanitárias para desinfecção dos pneus de veículos funcionam? Qual produto, se isso for eficiente, é recomendado utilizar? A mesma regra se aplica às lavagens de calçadas? Isso de lavar pneus é eficiente em vários casos, mas não para coronavírus. Lavar calçadas também não adianta. Essas ações resolvem nos casos de leptospirose, por exemplo, porque é causada por uma bactéria e aí sim, se não lavar as calçadas não se resolve o problema. Por mais que seja utilizado um quaternário de amônia, que é muito eficiente contra vírus e bactérias, é desperdício no caso específico que estamos tratando da Covid-19 – onde a contaminação se dá pelos olhos, nariz e boca. Recomendo a higiene de mãos, lavagem correta com água e sabão, investir em distribuição de álcool em gel e aí sim as pessoas estarão protegidas.

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