ECONOMIA

Seminário debate alternativas de desenvolvimento para a região

Carvão mineral esteve como uma das pautas principais no debate que aconteceu no interior de Candiota

Seminário contou com a participação de diferentes comunidades e entidades Foto: Silvana Antunes TP

Na última terça-feira (23), a Cooperativa Bionatur, localizada no assentamento Roça Nova, interior de Candiota, sediou o Seminário “Alternativas de desenvolvimento para a Região da Campanha Gaúcha”.

O evento foi realizado pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e contou com a presença de representantes de agroindústrias, agricultores, comunidades originárias da reforma agrária, entidades, organizações ambientais, sindicalistas e poder público. Na programação, apresentação de alternativas produtivas para o desenvolvimento da região, debate e encaminhamento sobre as alternativas e uma feira com exposição de produtos locais e regionais.

Nelson Karan fez a abertura do evento Foto: Silvana Antunes TP

O seminário foi coordenado pelo economista do Dieese, Nelson Karam. Ao Tribuna do Pampa, ele avaliou o evento como extremamente positivo e destacou que a idéia básica do seminário foi pensar na diversificação da economia local para contornar a dependência do carvão, que já tem sua dinâmica própria de se repensar. Ele ressaltou duas razões específicas, a primeira por meio da união de grupos de atores sociais da região bastante diverso no pensamento e a segunda, a apresentação de possibilidades de diversificação para Candiota e região. “Havia ideias diferentes, sobretudo em relação à questão da continuidade do carvão mineral. Então, nós procuramos chamar pessoas e organizações que tivessem diferentes pontos de vista sobre a situação do carvão e mesmo sobre a realidade da região. Isso foi extremamente positivo, foi muito rico, porque as entidades e organizações participaram, todo mundo pode falar o seu ponto de vista, contrapor ideias, o que é extremamente saudável e não só para a democracia, como também para pensar as alternativas da região. As falas , trabalhos, estudos apresentados já indicaram algumas possibilidades de diversificação aí para a economia. Nesse sentido, foram citados a industrialização do leite e seus derivados, uma possibilidade de crescimento; produção de alimentos orgânicos, que também é um campo a ser explorado; a pecuária familiar e regenerativa, sobretudo a ovinocultura que pode derivar não só a carne, como também a produção de lã e outros derivados; ainda o turismo e a gastronomia que foram sempre bastante citados”, relatou Karam, explicando que as contribuições serão sintetizadas em um relatório final para que “a gente possa ter em mãos um cardápio mais restrito de possibilidades para poder trabalhar na próxima etapa do projeto, visto que nossa intenção é tentar fazer esforços aí para colocar de pé uma, duas, três ideias que foram levantadas no Seminário.”

Ele acrescentou: “Priorizamos atividades que gerem emprego e renda, reduzam desigualdades e tenham impacto local. O carvão é uma atividade voltada para grandes empresas. O fato da diversificação estar assentada em atividades ligadas a agricultura não significa que não agreguem valor e renda para a região, inclusive com processos industriais estruturados na cadeia de produção”.

 

ABCS

Zancan disse que o evento foi importante para que a população conhecesse o contexto vivenciado Foto: Silvana Antunes TP

Também esteve presente no seminário, o presidente da Associação Brasileira do Carvão Sustentável (ABCS), Luiz Fernando Zancan. Em entrevista ao jornal ele expôs a importância do evento ser realizado na comunidade. “O debate é importante porque traz uma série de informações de forma que a população entenda o contexto que está vivendo e o que vem pela frente. Não se pensa no futuro sem ouvir as comunidades, por isso é fundamental esse tipo de ação promovida pelo Dieese. A transição energética é um processo e ao olhar as pessoas, você vai estar fazendo transição energética justa”, manifestou, destacando que o desafio agora é chegar em 2050 com o mesmo Produto Interno Bruto (PIB), per cápito, pois em Candiota há um  potencial enorme da atividade de carvão, que é o que transforma o município.

Zancan expôs ser necessário juntar e estruturar dados para ver que atividades econômicas podem ser trazidas ao mesmo tempo que se trabalhe com tecnologias para que o carvão se transforme em verde. “Pode, de repente, pelo carvão, gerar novos produtos que não emitam o CO2 ou que venham a capturar o CO2. Ou seja, você vai trabalhar em dois pilares, um usando o carvão que é um patrimônio minerário, e do outro lado criar uma outra economia. Então, você vai estar diversificando. Se os dois derem certo, você duplica o PIB per cápito daqui da região até 2050. O que todo mundo quer? que cresça, não que decresça”.

Por fim ele ressalta que “há um trabalho sendo feito, que existe um olhar para o futuro, mas esse futuro precisa de um presente, precisa que a gente mantenha essas usinas operando a partir do ano que vem”.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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