BELARMINA
Os anjos vieram buscar Belarmina. Tinha chegado a hora de partir para uma nova jornada, uma nova moradia, a definitiva.
Hora de descansar, disseram. Fim das dores, das lágrimas, dos hospitais com suas sondas e bipes chatos e intensivos e de médicos de jaleco branco e agulhas infindáveis.
Médicos mecânicos, dizendo sempre “vamos tentar, vamos acreditar.” tantas lutas, tantas dores, tantas esperanças e eis que chegam os anjos, tomam-na nos braços e Bela, enfim, está no Paraíso. Tudo é luz, tudo é paz.
Belarmina era guerreira, ora se era. Professora e Educadora como ninguém. Nascida e vivida para ensinar. Vibrava com o progresso de seus alunos como se deve vibrar com as conquistas.
Seus alunos eram parte da sua família. Vi alunos à noite na casa da família com os cadernos nos joelhos repassando os temas e ela gerenciando tudo, sempre incansável. Os dela não repetiam ano.
Sua imagem magra e alta, seu cabelo típico e prático, seu jeito severo, seu olhar inquisitivo serão lembranças nos corações de tantos e tantos alunos que passaram pela sua vida.
Ensinar, não é uma arte. É missão. Ensinar e educar ao mesmo tempo é para os bravos, aos que não se rendem, aos que não desistem nunca. Semear em terra fértil é prosa, em terra pedregosa e escarpada é dor e é lágrima.
BELA, Belarmina nós te amamos como pessoa nossa, como patrimônio nosso. Zeles por Candiota, por nossas crianças, pela educação carinhosa que tanto buscamos.
A PROFESSORA Belarmina foi sepultada sábado, 9 de dezembro.
Ass.: Seus alunos e alunas
CÚMPLICES
O casamento é basicamente um ato civil. O Tabelião não pergunta aos nubentes se ficarão juntos a vida toda e sequer pergunta se o amor existe entre eles. É um contrato civil, regido por um código.
Visa praticamente os bens materiais e a situação dos filhos no caso de uma separação. O Estado não crê num casamento perpétuo e por isso legisla.
A Igreja, quanto ao casamento é mais solene. Indaga sobre o amor e respeito recíproco, sobre educar os filhos e exige declaração de fidelidade mútua. A Igreja é definitiva e não admite a separação do casal a não ser pela morte.
Na vida real os humanos desrespeitam a Igreja e o Estado, vivendo como desejam, em múltiplas relações.
Claro que quem paga por isso são os filhos. Milhares de crianças abandonadas, largadas à própria sorte. No Brasil de hoje é verdadeira calamidade. O Estado e os pais castigam os filhos frutos da omissão. É uma cadeia auto destruidora que retro se alimenta. O deserdado de agora deserdará amanhã.
Belarmina e o Sérgio formaram um casal à moda antiga. Se entendiam, amavam seus filhos dando exemplo e reciprocidade.
Parceiros de toda vida!
O QUE SERÁ?
De nós neste mundo líquido, que nos inunda de insignificâncias e individualismo?
Como aprenderemos a amar e perdoar se tudo é precário, fungível e perece?
Será o amor? Quem souber abrace, beije e afague.
ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*