A busca da reconstrução

* Por Fernando Luiz Zancan

Em novembro de 2022, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) publicou estudo sobre a transição energética justa do carvão mineral, citando que a atividade gera no Rio Grande do Sul e Santa Catarina R$ 1,6 bilhões anuais de impostos e mantém 36,2 mil empregos diretos e indiretos. Em 2021, o Operador Nacional do Sistema Elétrico(ONS)apontou, em relatório para o Ministério de Minas e Energia, que o Complexo Jorge Lacerda, em Santa Catarina,operando a plena capacidade (740MW) pode contribuir com 5,1% para o armazenamento do sistema hidro do Sudeste/Centro Oeste.

Lembremos que 2021 foi crítico, pois tivemos um período muito seco e foi necessário operar todo o parque térmico para garantir a segurança do sistema elétrico nacional. No dia 03/05/24, enquanto o Rio Grande do Sul enfrentava as consequências da maior enchente de sua história, o ONS acionou todo o parque térmico do Estado, importando energia do Uruguai e Argentina, para garantir que os gaúchos não tivessem um apagão. O sistema elétrico do Rio Grande estava em situação crítica, com o desligamento de usinas hidráulicas, de 30 Linhas de transmissão, da Substação de Nova Santa Rita 500 kV e de 10 Transformadores de força. Ao longo do mês de maio, durante toda a tragédia, a Usina de Pampa Sul a carvão mineral, com 345 MW, operou a pleno, gerando uma energia13,62 % acima do normal. Isso possibilitou uma economia na conta de energia dos gaúchos, uma vez que essa térmica é a segunda mais barata do Brasil, com um custo cerca de 30 vezes menor do que a energia importada do Uruguai e Argentina.

Agora, nesse mês de julho,estamos vendo, mais uma vez, o ONS solicitar que se aumente o despacho das térmicas, em razão da perspectiva de baixa afluência para os reservatórios do sudeste e centro-oeste nos próximos meses. Mais uma amostra da importância das térmicas para garantir a energia do consumidor cativo e industrial. Nessas horas, as térmicas funcionam como uma espécie de seguro barato para o consumidor e a indústria. No caso do Rio Grande do Sul, onde estão cerca de 54 % dos recursos energéticos brasileiros com o carvão mineral, temos as usinas térmicas com os menores  custo variável unitário (CVU) do parque térmico brasileiro. Além de gerar energia elétrica, essas usinas produzem cinzas para duas fábricas de cimento em operação e uma em construção que deverá abastecer também o Uruguai. Além disso, nos momentos de crise energética da Argentina, quando liberadas pelo ONS, as usinas a carvão do sul ajudam na segurança energética do nosso vizinho, gerando divisas para o Brasil.

Num momento em que o Rio Grande do Sul luta pela sua reconstrução econômica, todos esses dados e informações tornam-se importantes. Afinal, são as atividades industriais com longas cadeias de valor, como a da indústria do carvão mineral, que devem ser preservadas e incentivadas para ajudar na recuperação rápida e efetiva da economia gaúcha. O Rio Grande tem um dos maiores patrimônios minerais do país, com projetos de titânio, fosfato e calcário que podem rapidamente gerar recursos para contribuir com a reativação econômica do Estado.

Para além disso, a economia gaúcha precisa de fertilizantes que ajudem na recuperação dos solos castigados pelas enchentes. O Rio Grande  deve olhar todo esse patrimônio e buscar agilizar seus processos de produção. Por exemplo, a mina de titânio necessita de uma resposta do IBAMA, que está em greve. A usina térmica de Candiota III precisa ser recontratada, um processo que depende de votação no Senado Federal. São movimentos com potencial para movimentar a economia gaúcha, de forma sustentável, gerando recursos localmente, mas também capazes de ajudar na economia nacional.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

Comentários do Facebook