Por muitos dias adiei uma ida ao norte do estado em razão das enchentes e dos problemas que causaram. Havia um caminho alternativo que ampliava a viagem em trezentos quilômetros. Por outro lado, andar por aí ficou perigoso e o bom senso me dizia para esperar um pouco. Esperei.
No último domingo não havia mais como esperar e realizei a perigosa aventura de andar por este Rio Grande. Sair de Porto Alegre não estava fácil, mas fui por Viamão, dei sorte que a estrada estava livre até Gravataí e dali segui até Sapucaia do Sul para pegar a Rodovia do Parque, uma viagem para chegar onde se chega logo alí em tempos de normalidade.
Na Rodovia do Parque, passando pelo Parque Assis Brasil, pude ver de perto a imensidão de água que quase chegava no nível da alta estrada. O Guaíba estava perto de 5m, quando a altura de inundação é de 3m. Achei que não seria possível passar pela Tabaí-Canoas, rumo a Lajeado e mais além. Quem andava comigo dizia que o “waze”, um aplicativo, dizia que podia. Podia, mas em Nova Santa Rita um bom pedaço de estrada, com 50 a 100m de extensão, estava destruída podendo passar num sentido apenas. A água quase no limite da estrada em muitos trechos e nas margens muitas casas, galpões, empresas, automóveis, cercadas pelas águas que também não pouparam os interiores dos mesmos. Aquilo que muitas imagens mostravam eu estava vendo ao vivo.
Em Lajeado e Estrela se via uma destruição concentrada próxima ao rio, em destaque a loja da Havan, por ser muito grande e estar completamente destruída, mas bastava espichar o olhar para ver que ao longe a destruição de casas simples e de outras empresas era imensa. Eu queria seguir por Venâncio Aires, Santa Cruz, rumo a Soledade, mas quem andava comigo disse que o “waze” indicava que eu podia seguir via Marques de Souza. Não podia. Na altura de Marques de Souza quem bloqueava a estrada nos indicou um desvio. Estrada de chão, que começava logo depois do rio, que destruiu grande parte de Marques de Souza, e seguimos rumo a Coqueiro Baixo, e depois por estrada asfaltada rumo a Nova Bréscia, Dr. Ricardo, Ilópolis, Arvorezinha e finalmente Soledade. Quatro horas em meio a muita devastação. Passei por duas ou três dezenas de lugares onde houve queda de barreiras e as prefeituras haviam liberado a pista, às vezes uma só. Se em Porto Alegre e região metropolitana, onde muitos morreram, sair de casa era possível enquanto as águas subiam, lá por onde andei muitos morreram, mas é difícil entender como não morreram muitos mais. Vi casas que foram invadidas em lugares onde o rio subiu uns quarenta metros. Os quarenta metros que falo é na vertical e não estou exagerando.
Ao voltar, na quarta, chegando em Porto Alegre me deparei com centenas de carros parados na Rodovia do Parque, na altura de Canoas. Pessoas no entorno que pareciam estar habitando seus veículos.
O que chamam de reconstrução do estado me parece coisa pouca comparando com o que vivem estas pessoas que estiveram e ainda estão no centro da tragédia.
Andando por aí
17:33 - 24/05/2024
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