144 ANOS

Apesar das crises, ovinocultura ainda é um dos símbolos de Pinheiro Machado

Município é o 6º no ranking de produção de ovinos

Zootecnista Leonardo Farion (D) disse que a ovinocultura continua sendo importante para o produtor Foto: Divulgação TP

O Rio Grande do Sul é o segundo estado do país com o maior rebanho, com cerca de 3,5 milhões de cabeças dispersar em mais de 52 mil propriedades de todos os tamanhos. As regiões que mais produzem são as da Campanha e da Fronteira Oeste. Santana do Livramento, Alegrete, Quaraí, Dom Pedrito e Uruguaiana são os municípios com os maiores rebanhos. A cadeia produtiva da ovinocultura, entretanto, ocupa um número muito maior de pessoas, já que a carne e a lã se desdobram em variadas atividades, de frigoríficos à produção artesanal.

Apesar de não estar entre os municípios com maiores números de rebanhos, Pinheiro Machado é conhecida como a Terra da Ovelha, onde é realizada anualmente a Feira e Festa Nacional da Ovelha (Feovelha) e onde o rebanho ovino faz parte da história da cidade e de seus moradores.

Em razão disso, o Tribuna do Pampa, nesta edição que antecede o aniversário de 144 anos de Pinheiro Machado, traz uma matéria com integrantes do setor agropecuário, ligados a ovinocultura para falar sobre o tema.

O jornal conversou com o zootecnista e vice-presidente do Sindicato Rural de Pinheiro Machado, Leonardo Farion, que afirmou que “apesar das crises e dos altos e baixos inerentes ao setor primário, a ovinocultura sempre esteve e está ao lado do produtor como uma atividade importante e com retornos sempre significativos dentro do sistema”.

Solicitado pelo jornal a falar sobre a evolução do setor ao longo dos anos, o vice-presidente disse que a criação de ovinos se deu e se da de forma basicamente extensiva, ou seja, animais soltos nos campos se alimentando de vegetação nativa, mas que atualmente o uso de pastagens cultivadas vem incrementando este sistema e o tornando mais rápido, o uso de tecnologia também auxiliam o produtor a produzir mais e melhor.

“O município de Pinheiro Machado sempre esteve entre os 10 maiores rebanhos de ovinos do estado, oscilando posições, porém hoje é o 6º deste ranking. Quanto a número de animais, houve uma diminuição como um todo no estado. O RS já teve em torno de 13 milhões de ovinos e hoje tem um rebanho ao redor de 3 milhões. Essa diminuição se deu por vários fatores, mas o mais significativo foi a crise da lã na década de 80”, lembrou.

O zootecnista não deixou de lembrar o papel importante do município na ovinocultura em razão da Feovelha. “Pinheiro Machado tem um papel de destaque na ovinocultura nacional, pois sedia há quase 40 anos a maior feira de ovinos do interior do Estado. Neste sentido o sentimento é de otimismo a curto e longo prazo, pois a ovinocultura e a Feovelha se reinventaram já inúmeras vezes nestas quatro décadas e acreditamos que não será diferente nas próximas décadas. A ovelha se adapta muito bem a tudo que lhe é proposto”, argumentou.

Leonardo também acrescentou que o Brasil e o RS são detentores de um material genético ovino invejável. “Apesar de hoje termos alguns entraves para uma comercialização mais livre entre os países no Conesul, mesmo assim nossos produtores investem em importação de genética, seja através da compra de animais melhoradores ou sêmen e embriões, inclusive de material genético da Europa. A pecuária brasileira e a nossa ovinocultura trabalha com tecnologia de ponta desde sempre e a Feovelha propicia que tudo isso seja visto e esteja ao alcance dos nosso produtores rurais da região”, destacou.

Presidente do Sindicato, Heber Farias afirmou haver ciclos bons e ruins dentro da ovinocultura Foto: Divulgação TP

FEOVELHA – O evento aconteceu em 2022 ocorreu na sua 38ª edição tradicionalmente no Parque Charrua, sede do Sindicato Rural de Pinheiro Machado. O TP conversou com o presidente do Sindicato Rural, Heber Farias, que lembrou que a ovinocultura é uma atividade importante dentro da agronegócio. “Além da importância econômica, tem importância social. Em nossa região, especificamente, os campos são propícios para a criação de ovinos. Ao longo do tempo temos uma tradição ovelheira. A ovelha sempre ajudou no sustento das famílias rurais, quer como produtora de lã, quer como produtora de carne, ou no artesanato”, afirmou.

Farias, porém, destacou ser claro a vivência de ciclos, bons e ruins. “No momento estamos com dificuldade na comercialização da lã, mas de alguma forma, segue dando resultados. E a Feovelha, bem, sem dúvida é de uma importância imensa para o setor. Trinta e oito edições, ininterruptas deste evento, comprovam a sua importância. Além da intensa programação desenvolvida durante a feira, como palestras, reuniões, mostra de artesanato, concurso de fotografia, negócios e exposição de animais com as melhores cabeças de suas propriedades, dão a dimensão da Feovelha. A Feovelha é agregadora, produtores de qualquer tamanho, dos mais longínquos rincões reservam esta data para fazer bons negócios”, relatou Hever, ressaltando que nem mesmo a pandemia de Covid-19 impossibilitou bons negócios.

FUNDOVINOS – No dia 11 de abril deste ano foi sancionada pelo governador a Lei que modifica o Fundo de Desenvolvimento da Ovinocultura (Fundovinos) e garante que os valores do fundo sejam investidos diretamente no setor da ovinocultura e gerenciados por entidades representativas dos produtores. A nova legislação foi uma proposição do deputado Luiz Fernando Mainardi (PT), aprovada na Assembleia Legislativa em março deste ano com 45 votos favoráveis e apenas dois contrários.

O Fundo, criado ainda em 1998, arrecada cerca de R$ 1,5 milhão por ano e até agora era gerenciado diretamente pelo Executivo. A execução dos valores vinha caindo ano a ano. Em 2013, 86,6% dos R$ R$ 2,3 milhões arrecadados foram investidos, mas em 2021 a arrecadação caiu para R$ 1,5 milhão e a execução foi de apenas 3,8%. Nos últimos três anos a execução foi de 4,4% (2019), 1,5% (2020) e 3,8% (2021). Na ocasião, Mainardi manifestou alegria. “Foram mais de quatro anos de negociações. Tenho certeza de que o setor ovinocultor também está feliz. A criação de ovinos é um ativo econômico importante, mas também é um ativo cultural do nosso estado. Nossos campos das regiões da Campanha e da Fronteira Oeste estão em festa”, declarou o parlamentar.

* Originalmente este conteúdo foi publicado no jornal impresso

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