*Por Nael Rosa
“O Matemático, que era meu amigo há seis anos, representou o crescimento da competição que evoluiu junto com ele, já que começamos tendo a participação de 12 equipes e este ano são 35. Seus dribles mostravam ser ele bem mais que um mero jogador que, com esta quadra, teve uma ligação única. Nela, era preciso e calculista, então, essa é minha definição para tanto talento. Enfim: foi mais que um mero jogador, esse ‘louco’ jogou muito e não pode e nem será esquecido também por nós, piratinienses, assim, este ano criamos o Troféu Lucas Porciúncula, que será entregue ao melhor jogador desta edição”.
Desta forma, o coordenador do Departamento de Desporto da Prefeitura de Piratini, Eleno Belasquem, falou sobre os motivos da homenagem ao jovem candiotense Lucas Porciúncula, morto aos 22 anos em 2 de setembro de 2023, em frente a casa do pai, César Porciúncula, na sede de Candiota. O pronunciamento antecedeu o pontapé inicial para os jogos da Séria A.
A ideia do troféu ocorreu a partir da iniciativa da gestão da Associação Esportiva BGV, campeã da categoria em 2023, mas também da organização do evento. Além do anúncio do troféu, depoimentos em vídeo de quem jogou e conviveu com o jovem, de algumas pérolas e gols que deram à BGV, três taças nos últimos anos, foram passados em um telão como forma de lembrança e homenagem ao atleta considerado como craque na cidade, tendo, inclusive, sido lembrado pelo jogador Deiber Santos, pela conquista de torcidas adversárias. Ao rever as pérolas de sua autoria, o público que superlotou o ginásio Benoir Garcia, se emocionou e, como resposta, não só aplaudiu intensamente, mas ovacionou Lucas, unanimidade entre os que apreciam a arte com a bola.
Para o Tribuna do Pampa, Deiber, que era o responsável por levar Lucas aos jogos em Piratini pela BGV em 2019, disse que o companheiro das quatro linhas foi bem mais que um craque das quadras.“Para que eu possa definí-lo há a necessidade de, primeiro, raciocinar. Não faço isso por ser difícil, pelo contrário, mas é que esse garoto tinha também um coração maravilhoso e um caráter fora do comum. Não há sequer uma linha negativa para falar dele. Por exemplo: aqui no Sul, os jogos de futsal também são muito ‘pegados’, então, é normal a coisa esquentar e até perdermos a cabeça de vez em quando. O Lucas era da turma do ‘deixa disso’, o primeiro a acalmar a todos quando a coisa esquentava”, recorda o pinheirense, que conclui acrescentado: “Eu, que já havia sido campeão três vezes em Piratini, sendo a última ao lado dele, tive a felicidade de jogar com alguém acima da média, um canhotinho de passe e batida na bola fantásticos e que preenchia todos os espaços em quadra, que era diferenciado e, tudo isso junto, fez a cidade abraçá-lo e agora homenageá-lo”.
Para o presidente da Associação BGV Wellinton Moura Belasquem, o Belas, será impossível repor a peça que este ano falta à equipe. “O Lucas era único. Mas como foram muitas às vezes em que ele se hospedou em minha casa, pude constatar sua humildade. Era uma pessoa tão simples, que, de vez em quando eu dizia: – Lucas, hoje a bóia (comida) não tá lá essas coisas e, para ele, sem problemas, pois não se importava com detalhes como este. Não tê-lo mais dentro de quadra, mas principalmente junto de nós, depois de três títulos, será muito difícil. Espero que a justiça seja feita, pois isso poderá amenizar, quem sabe, a nossa dor”, afirmou.
Ao ouvir tudo isso, o que fez junto ao neto Matteo, de 7 meses ao colo, César, pai de Lucas, não conteve as lágrimas, pois à sua frente, no telão, alguns dos muitos gols marcados pelo pai da semente deixada pelo seu caçula na única final e título que, desde os 7 anos, ele não se fez presente, não comemorou e não pode registrar em imagens a última conquista de Lucas, que partiu poucos dias depois de ser campeão em Piratini. “É algo bom, já que é uma homenagem a este pedaço que fazia parte e tiraram de mim, de minha esposa, de nossa família. É claro que dói, e muito, pois a ferida se mantém sangrando. Eu já sabia que seria difícil tocar no assunto de novo, ouvir e ver tudo que ouvi e vi outra vez, mas precisava me fazer presente e trazer o filho dele, meu neto, para estar junto comigo neste momento”, disse Porciúncula, que, em meio ao choro e muita comoção, arremata com algo que sempre irá lamentar: “Eu não estive ao lado do Lucas nesta, que nós não imaginávamos que fosse ser sua despedida das quadras, então, o que pude fazer foi uma tatuagem para, também em meu corpo, eternizá-lo. Sei que, lá de cima, ele viu todo esse carinho para ele e, acredito que disse: – que bom, estou feliz, o meu pai veio e participou de tudo isso que fizeram para mim”.
ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*