Biblioteca?

Nas últimas duas semanas tratei dos 30 anos dos municípios de Hulha Negra e Candiota. Fui questionado pela equipe do jornal sobre o que fiz e se teria feito alguma coisa que não fiz. O que respondi está disponível no site do jornal. Algumas coisas que fiz poderiam ser copiadas, em parte, pelos prefeitos atuais como por exemplo promover amplo debate para estabelecer dificuldades, oportunidades e prioridades para os municípios e um planejamento estratégico para os próximos 20 anos. Coloquei a sociedade como protagonista nas decisões.
Porém, nem tudo que fiz nos doze anos que fui prefeito seguiram nesta linha. Mas não diria que cabe no “faça o que eu digo e não faça o que fiz”. Bem, quando fiz errado e deu errado não faça. Vou citar um exemplo.
A Biblioteca Pública de Hulha Negra não surgiu de uma prioridade estabelecida pela comunidade. Foi uma decisão minha construir a mesma. Talvez esteja em Hulha Negra a única biblioteca pública construída nos municípios emancipados nos últimos 30 anos na região. Levei em consideração uns versos de Lauro Trevisan, no poema “Ser jovem”: “se você tem a coragem dos grandes conquistadores, dos profetas, inventores que enxergando mais além, souberam ver o futuro, pondo luzes no escuro pra nortear os que vêm”. Eu devo ter pensado nestas coisas de enxergar mais além… E assim foi construída tal biblioteca na região central de Hulha Negra.
Não ficou pronta a tempo de eu inaugurar no final do terceiro mandato. A obra ficou 85 a 90% concluída e foi terminada no mandato seguinte com Renato Machado de prefeito. Não tendo sido resultado de uma vontade da sociedade, não tendo sido inaugurada no meu mandato, com publicidade zero ou próximo disso desde a inauguração, a sociedade não dá a devida atenção ao local, nem se apropriou do mesmo, com algumas exceções que sempre existem.
A exceção é o exemplo do burro ouvi outro dia. O idiota sempre tem uma exceção para citar querendo fazer parecer que a exceção é a normalidade.
Nas poucas vezes que estive na biblioteca, umas quatro ou cinco, nos últimos 13 anos, o local estava absolutamente vazio, com um servidor, nunca o mesmo, com um certo ar de que “me deixaram aqui”. Nenhuma emoção de trabalhar em ambiente “tão seleto”.
Na última semana, o vice-prefeito me perguntou se eu tinha os nomes dos membros da Comissão de Emancipação. Sugeri: na biblioteca pública eu deixei lá um livro com a cópia do processo de emancipação de Hulha Negra. Ele foi. O livro também foi. Não se sabe pra onde.
Uma biblioteca que muito pouco oferece para a sociedade onde um livro de tal importância consegue ser extraviado precisa ser repensada.
Hoje, eu colocaria os livros que ali estão nas bibliotecas da Escola Municipal Monteiro Lobato ou da Universidade Aberta do Brasil, encerraria as atividades de biblioteca no local e colocaria ali uma creche, muito bem localizada e que o município precisa muito.

* Originalmente este conteúdo foi publicado no jornal impresso

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