ESPECIAL 30 ANOS

Candiota e Hulha Negra – A vida há 30 anos

A democracia caminhava a passos lentos quando Hulha Negra e Candiota decidiram pelas emancipações. O voto pelo sim, de imediato, não trouxe qualquer mudança instantânea na estrutura administrativa. E enquanto o processo de transição se arrastava no sentido de um novo pleito, conceitos se reformulavam em todos os cantos.
Havia clima de revolução até no terreno da política. De seus televisores, os ávidos emancipacionistas sulinos assistiam incrédulos ao movimento de jovens pintados, que traziam no rosto a vontade de se libertar de um executivo boa-pinta. Fernando Collor, aos olhos do povo, havia fragilizado a economia. Foi o último presidente a desfilar em um Opala.
Para substituir o líder, havia um vice. Mas para repor o ícone da indústria automotiva nacional, criado em meio à dureza do Ato Institucional Número 5, em 1968, a Chevrolet teria que cruzar o Atlântico, em direção à Alemanha. A importação, por ironia do destino, seria viabilizada pela política alfandegária do ex-comandante. Para o Brasil que finalmente começava a banir as carroças, como queria o presidente deposto, o Omega representava um marco tecnológico. E a intenção de crescer também se manifestava no esporte.
Internacional, Flamengo e São Paulo eram os donos da bola. Os gaúchos celebravam a primeira e única Copa do Brasil, conquistada diante do Fluminense. O rubro-negro da Gávea chegava ao penta no Brasileirão. O tricolor defendido por Zetti e Raí superaria o Barcelona em Tóquio, garantindo a segunda conquista do Intercontinental de Clubes. E se os pés favoreciam as vitórias, com as mãos o país também não ia mal.
Com o ouro olímpico, a seleção masculina de vôlei se preparava para um legado histórico, de estatísticas invejáveis. Nas pistas, nascia a rivalidade entre Senna e Schumacher, sobre quem pesaria a suspeita de provocar a batida em Magny Cours. Os pontos perdidos naquela corrida serviriam para adiar o sonho do tricampeonato da lenda brasileira.
O piloto alemão precisou de duas décadas para reconhecer o erro. E não foi por falta de exemplo. Em 1992, o Papa João Paulo II corrigiu um erro de 400 anos, com a absolvição de Galileu Galilei, condenado pela Igreja por apoiar a teoria de Copérnico, defendendo a tese de que a Terra não era o centro do Universo.
Por alguns dias, o Rio de Janeiro se tornou o centro do mundo. A Eco-92 lançava o desafio de preservar sem comprometer o desenvolvimento. E o momento não poderia ser mais apropriado. O continente celebrava 500 anos ao som de Exaltasamba, Katinguelê e Negritude Júnior; precursores da era do pagode. Madonna, Roxette e Nirvana representavam a resistência estrangeira. E o nordeste contra-atacava com Falcão, ironizando a figura do ídolo brega.
Destino triste, mesmo, só o do Trem da Alegria, que anunciou o fim no dia 31 de dezembro, quando candiotenses e hulhanegrenses se preparavam para escrever suas próprias histórias com a posse de prefeitos e vereadores. Antes, entretanto, as duas localidades precisaram garantir a realização de plebiscitos; dispositivos que viabilizariam as emancipações.

(Texto publicado originalmente na Revista Pampa Magazine em comemoração aos 20 anos de Candiota e Hulha Negra)

* Originalmente este conteúdo foi publicado no jornal impresso

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