O pedido da melhor amiga

O Lindomar era incorrigível. Não havia pedido da filha, bronca do filho, choro da mulher, carraspana do sogro, conselho do cunhado, que resolvesse. De tempos em tempos, era como um andaço, o Lindomar estava de caso eventual com alguma quenga.

Nada sério, tinha uma consideração especial e única pela família, da qual garantia: – A família é para sempre.

O problema dele era conjuntural, de um lado agradável de um rabo de saia, de outro, estava chegando à terceira idade. É agora ou nunca, planejado. Da mulher, o que dizer, gostava mais de ser chamada de mãe que de ‘bem’, como ele a chamava até os 30 e poucos. Depois da chegada do primeiro neto, ela babava mesmo era quando este a chamava de vó. Gostava especialmente daquela dádiva que o fora concedido de ser avó.

O Lindomar gostava de uma mulher que não fosse a sua, mas só para uns momentos de diversão, como sempre ressaltava, e se diga a seu respeito, olhando-se pelo lado positivo, nunca teve mulher fixa que não fosse a sua. Esta, ainda que saiba das suas travessuras, muitas vezes faz que não via, até porque sabia, e os anos passados lhe deram a certeza, que a responsável, pelas fugidas do Lindomar, era apenas mais uma.

Cumpridor de seus deveres fundamentais de provar a família de recursos para as necessidades básicas e, inclusive, de uma série de supérfluos que ele sempre lembrava pagar, era um ser que tinha por fundamentos os conceitos do pai e do avô. Entre estes conceitos, o de que nada deixou faltar, era o pai de família que todo mundo pediu a Deus.

…o problema é que morava em cidade pequena, onde todo mundo se conhece, e qualquer ‘mau passo’ de alguém vira notícia comunitária.

O maior problema de Lindomar era que a mulher sempre acabava sabendo. Raramente se ofendia, quando dizia que não aguentava mais tanta humilhação. Sempre aguentei. Porém, doía na alma do Lindomar o fato de que as descobertas causaram problemas com a família.

Outro problema é que morava em cidade pequena, onde todo mundo se conhece, e qualquer ‘mau passo’ de alguém vira notícia comunitária.

Quando a mulher do homem da esquina deu a deixa de que estava de acordo com um encontro mais íntimo, o Lindomar foi definitivo, ‘vamos, sem compromisso, certo?’

– Certo, disse ela, que pretendia, faz tempo, usufruir das bênçãos da boa fama que o mesmo tinha. Gostava de dar presentes.

Após as diversões de praxe, o Lindomar discorreu longamente sobre a necessidade imperiosa de que o assunto ficasse entre ambos, ao que ela dava a garantia maior, ‘eu sou casado’.

– Mulheres, mulheres nunca são confiáveis, disse o Lindomar.

No outro dia, a melhor amiga desta foi ao seu local de trabalho. Chegou-se com muita alegria, falando com um e outro, se chegando em Lindomar e, ao cumprimentá-lo, deixou em sua mão um bilhete. Com muitos anos de praia, comportava-se da forma mais discreta possível, enquanto a jovem se dirigia a outro ambiente. Assim que pode, longe de olhos inoportunos, transmite o que disse a mensagem.

– Eu também quero!

 

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