Pelé

Deixei passar uns dias para escrever sobre Pelé, o rei do futebol. Se no ano passado a maior parte de quem é vivo na Inglaterra se despediu da única rainha que conheceu, nos despedimos de nosso rei mais relevante. Ainda temos Roberto Carlos.

Nasci no ano em que o Brasil foi campeão do mundo pela primeira vez no futebol. Consta que Nélson Rodrigues foi o primeiro a chamar Pelé de Rei, mas foi logo após a decisão da Copa do Mundo de 1958, Brasil 5×2 França, que os franceses difundiram o título que até hoje é quase uma unanimidade. O quase se deve ao fato de que muitas pessoas não veem o futebol como um todo, mas apenas partes do todo e chegam a conclusões equivocadas porque percebem errado.

Três jogadores são ou podem ser comparados com Pelé, Maradona, Messi e Cristiano Ronaldo. No futuro, Mbappé.
Maradona tem um currículo muito inferior, mas ganhou uma Copa do Mundo onde carregou o time, como Garrincha fez em 1962. Maradona era baixo, não tinha impulsão relevante, quase não cabeceava e chutava raramente com a perna direita.

Messi jogou a vida inteira em equipes que são seleções de atletas escolhidos a dedo no mundo. Pelé jogou produtivamente no Santos com brasileiros e um que outro argentino, como Cejas e Ramos Delgado. Pelé foi campeão do mundo protagonista na seleção com 17 anos e 29 anos, 1958 e 1970. Messi em clubes, Barcelona e PSG, possui mais títulos mundiais e jogou toda vida na maior liga do mundo, a Champions, mas só se tornou protagonista na seleção da Argentina aos 35 anos. Messi, como Maradona, raramente fez um gol de cabeça e joga usando a perna esquerda. Controle de bola? Fico com a opinião de Rivelino que diz que ninguém matou uma bola no peito como Pelé. Dos argentinos que vi jogar, Messi é o melhor.

Quem chega mais perto com carreira consolidada para ser comparado com Pelé é Cristiano Ronaldo. Chuta com os dois pés, com imensa facilidade, tem velocidade, arranque, grande impulsão, cabeceia muito bem, ganhou muitos títulos em clubes (e levou Portugal a suas maiores conquistas) tendo sido campeão mundial em dois, Manchester United e Real Madrid, mas não tem o controle de bola que Pelé tinha, nem a calma na frente do goleiro, nem via o jogo com tamanha amplitude.

Quando lembro da vida Pelé era Rei. Não era sujeito, verbo ou objeto direto, era a frase inteira. Não era um capítulo, era o livro.
Mais que ninguém, Pelé nos mostrou que poderíamos ser os melhores do mundo, e não só no futebol. Fez com que em alguns momentos da vida tivéssemos orgulho (e até alguma vaidade) de sermos brasileiros.

Historicamente, uma frase famosa diz: – Rei morto, rei posto. O problema é que no Brasil nem príncipe temos para indicar ao cargo.

Como meu pai, no estádio nunca vi Pelé jogar.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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