PATRIMÔNIO CUTURAL

Cerimônia marcará início das obras de restauro do Castelo de Pedras Altas

Evento vai contar com a participação do governo estadual Foto: Arquivo TP

Está marcada para este sábado (26), uma cerimônia para marcar o início das obras da 1ª etapa do restauro e revitalização do Castelo de Pedras Altas. O evento será no Castelo de Joaquim Francisco de Assis Brasil, político, diplomata, produtor rural e intelectual gaúcho, em Pedras Altas e contará com a presença da equipe do Governo do Estado, órgãos de preservação, além das autoridades municipais, empresas patrocinadoras e equipe do projeto.

As obras de restauro são promovidas pela Associação Castelo de Pedras Altas que é uma entidade sem fins lucrativos que tem por finalidade congregar esforços para cuidar e restaurar os bens móveis e imóveis do Castelo de Pedras Altas. Criada em 2022, a Associação Castelo de Pedras Altas é a articuladora dos inúmeros atores que estão e serão engajados nesse projeto cultural, a ser executado em etapas nos próximos anos.

Atualmente, o castelo pertence a família Segat. O monumento leva os nomes de Rafael Batista Trindade Pacheco Segat, Gabriela Trindade Pacheco Segat e Kamilla Trindade Pacheco Segat. O responsável pela compra foi o pai dos novos proprietários, o advogado Luiz Carlos Segat, que na ocasião relatou que a aquisição foi efetuada pelo interesse da família no local, conquistado através do trabalho do corretor de imóveis João Iris Silva Moreira e dedicação dos advogados das partes envolvidas na negociação.

“A família já possui um vínculo emocional com o lugar, por sua história e arquitetura, mas hoje não é só a família envolvida nesse projeto, mas sim uma associação que mobiliza todo um grupo de atores importantes na concretização desse projeto”, disse anteriormente Luiz Carlos Segat ao Tribuna do Pampa acerca da confirmação da obra de restauro.

 

 

SOBRE A GRANJA

 

Segundo o Livro Tombo IPHAE (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do RS), “a Granja de Pedras Altas foi o grande projeto pessoal de Joaquim Francisco de Assis Brasil. Pretendia provar que um pequeno pedaço de terra poderia ser tão produtivo quanto uma grande propriedade, se fossem usadas técnicas modernas e racionais”.

Edificado em 1913, em forma de castelo medieval com pedras em granito rosado gaúcho, possui 44 cômodos com rico mobiliário e objetos de época, trazidos por Assis Brasil principalmente de Lisboa, Paris, Washington e Buenos Aires, locais em que viveu com a família quando exercia atividade diplomática.

Também fazem parte do acervo do castelo uma imponente biblioteca com 15 mil livros em latim, inglês e português, além de 22 volumes da maior enciclopédia do mundo de Diderot e d’Alambert datada de 1751, um exemplar do Alcorão, original em árabe, e ainda, de uma versão russa da Bíblia Sagrada, editada em 1904. Constitui hoje o maior acervo cultural familiar do Estado do Rio Grande do Sul e segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do governo gaúcho é a maior biblioteca particular da América Latina (Revista News, 2022).

A edificação também é pioneira no Estado no uso de técnicas construtivas e na infraestrutura dos prédios, como iluminação a gás, captação de águas pluviais para abastecimento e preocupação com conforto térmico. Além de seu valor enquanto patrimônio material, o castelo foi um marco histórico da Revolução de 1923, da qual Assis Brasil foi o chefe civil, e sediou a assinatura do Pacto de Pedras Altas, pondo fim à Revolução- a mesa onde ele foi assinado pertence ao castelo, bem como as vidraças quebradas na invasão do Chimangos.

Na política, Joaquim Francisco de Assis Brasil (1857- 1938) foi o principal pensador a contribuir para a confecção do primeiro Código Eleitoral da história, promulgado em 24 de fevereiro de 1932- criação da Justiça Eleitoral, a instituição do voto feminino e o voto secreto. Atualmente ele é conhecido como pai do direito eleitoral, pois suas ideias serviram de inspiração para o código eleitoral de 1932. Na agricultura e pecuária introduziu no Brasil o gado Jersey, o gado Devon e a ovelha Karakul, tendo participação importante na introdução do cavalo árabe e no melhoramento do Thoroughbred, o puro sangue inglês.

Em 1977, pelo Decreto n°. 25.933 o governador Synval Guazzelli fez de Assis Brasil o patrono da Agricultura do Rio Grande do Sul. E na mesma data o Parque Estadual de Exposições situado no município de Esteio passa a ter a denominação de Parque de Exposições Assis Brasil, uma homenagem ao seu relevante trabalho para a agropecuária brasileira.

Em termos paisagísticos, salientam-se a implantação do conjunto espacial composto de elementos materiais construídos associados a determinadas morfologias e dinâmicas naturais incluindo-se o castelo, as edificações e instalações rurais, potreiros, cemitério, acessos, jardins e alamedas que evidenciam o seu caráter peculiar dessa relação tecida ao longo do tempo e que se revela a partir das formas específicas de uso e apropriação da natureza pelo trabalho humano.

Enfim, o Castelo de Pedras Altas, é um referencial importantíssimo para a memória coletiva de todos os gaúchos e reforça uma identidade cultural, que em sua dimensão simbólica, contribui para a preservação e valorização da diversidade cultural do Estado do Rio Grande do Sul.

 

SOBRE O PROJETO

 

Segundo a gestora cultural Cristina Schneider, o projeto de Restauro e Revitalização do Castelo de Pedras Altas – 1ª Etapa, foi aprovado em 2022 e é financiado pelo Pró-Cultura RS, da Secretaria da Cultura e Governo do Estado do Rio Grande do Sul, através da Lei de Incentivo à Cultura, de quase R$ 2 milhões. O documento prevê a impermeabilização e pavimentação da laje de cobertura nos locais de maior acesso e, no andar superior, a remoção e execução dos revestimentos internos, instalações elétricas e restauro da pintura das janelas metálicas.

O projeto conta com o patrocínio das empresas Rede Super, Plasbil, Podal Distribuidora, Unimed, Beltrame Materiais de Construção, DSL Postos Santa Lúcia e conta com o apoio institucional do IPHAE , Prefeitura de Pedras Altas e  Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).  Ainda conta com o patrocínio direto da Fundação Toyota do Brasil que irá contemplar o Projeto de Intervenção estrutural do Terraço – 2ª etapa.

Posteriormente deverá ser realizada a recuperação da mobília e acervo da biblioteca histórica.

 

 

FUTURO

 

Está prevista uma ampla mobilização nas mídias sociais do projeto cultural para divulgar e gerar engajamento para seleção de participantes para a realização de duas visitas guiadas.

O resultado, a longo prazo, será a implantação de um Ecomuseu com o objetivo de valorizar o território, a paisagem cultural e a memória do lugar, perspectiva que reúne a história social ancorada em seus referenciais arquitetônicos e paisagístico, uma importante contribuição para o desenvolvimento cultural do Estado.

 

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

 

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