SUPERAÇÃO

Médica e ex-vice-prefeita de Hulha Negra conta o drama vivido ao enfrentar a Covid-19

Ester Köester também anunciou retorno dos atendimentos

Médica participou de um evento no Legislativo de Hulha Negra Foto: Reprodução TP

Bastante querida pela comunidade de Hulha Negra e região pela forma de atendimento médico e humanitário com os pacientes, a médica Ester Köester, falou pela primeira vez em público, sobre os problemas enfrentados após ser acometida pelo novo coronavírus, em 2020, logo no início da pandemia de Covid-19, durante o exercício da profissão.

Ainda em processo de recuperação, com um pouco de dificuldade na fala e mobilidade, a médica anunciou durante o Seminário Mulheres que Inspiram, realizado no Legislativo de Hulha Negra, o retorno as atividades médicas para os próximos dias. A informação e história da médica foi motivo de emoção e aplausos pelos presentes, pela superação, garra e força de vontade de viver da profissional, que é ex-prefeita de Hulha Negra, na administração de Erone Londero, médica do trabalho e proprietária da clínica Sulmedyk, de Bagé.

FAMÍLIA E PROFISSÃO – Natural de família humilde, seus pais, Astra e Helmute Köester, são descendentes de colonizadores da Trigolândia, em Hulha Negra. Nascida e criada em Seival, Candiota, onde hoje é a UTE Pampa Sul, morava há 4 km da estrada principal. “Na época, eu e meus primos não tínhamos acesso ao estudo, então meu avô optou por comprar uma chácara na Trigolândia por ser mais próximo da escola. Meus tios foram morar com meus avós e minha família foi morar em Bagé, tive a oportunidade de estudar em escola particular, onde começou o sonho de ser médica”, contou.

Quanto à profissão, Ester contou que seu objetivo era ajudar as pessoas. “Tanto lutei, sonhei e conquistei a faculdade de medicina em Pelotas. Quando me formei, a Hulha já era emancipada, estava em seu segundo governo, e conversando com o prefeito da época disse do meu desejo de prestar serviço para a comunidade do município que vi crescer. Isso de fato ocorreu, fiz plantão em Hulha Negra durante cerca de 15 anos, onde também tive minha filha Isadora. Junto, atendia Bagé e Candiota. Depois, montei uma empresa de segurança no trabalho que tenho até hoje, há 18 anos, prestando serviço há várias empresas da região”.

Para Ester (D), apoio do esposo Vilmar e da filha Isadora foram seu suporte durante os momentos mais difíceis Foto: Arquivo Familiar/Especial TP

A DOENÇA – A médica fez um relato da evolução da doença, desde que foi acometida pelo vírus, até os dias atuais. Confira abaixo, o depoimento:

“Há dois anos, peguei o vírus da Covid-19. Na época não tinha vacina, fui um dos primeiros casos que aconteceu e evoluiu muito rápido. Meu marido e filha também pegaram, mas com sintomas leves e logo melhoraram. Estávamos juntos em casa, de repouso, mas comecei a ter tosse e falta de ar, minha oxigenação do sangue estava muito baixa, cada vez caindo mais. Em uma sexta-feira fui tomar banho e tive que chamar meu esposo Vilmar porque senti que ia desmaiar de falta de ar.
Tive a certeza que não ia me curar em casa. Procurei o hospital e em quatro dias afundei muito. Em dois dias a oxigenação chegou a zero e tive que ser entubada em Bagé, onde fui machucada e fiquei com cicatriz. De domingo para segunda-feira avisaram minha família das minhas condições de saúde, que optou por me encaminhar de avião para Porto Alegre, onde fui recebida pela minha irmã que mora lá. Cheguei com 90% dos pulmões comprometidos e 1% de chance de sobreviver.
Lá tive duas paradas cardíacas, fui reanimada e ligaram para meu marido dizendo ‘ela não tem chance, ela não passa dessa noite’. Isso foi um choque para minha família, uma doença que veio para causar muito medo, mas não me fez desistir de trabalhar na linha de frente. Escolhi ser médica, fiz um juramento na formatura e a profissão é nosso primeiro casamento, primeira família. Peguei o vírus de um paciente, mas não me arrependo de nada, eu estava trabalhando com o coração.
Em Porto Alegre vivi muitas coisas, fiquei 120 dias internada, desses, 75 na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Depois de passar o período do vírus, queriam tirar minha sedação, mas eu não acordava. Foram verificar o que estava acontecendo e detectaram um AVC, uma pericardite, além do alojamento de um fungo na válvula do coração, pois não bombeava sangue corretamente. Ainda, os rins pararam de funcionar, sendo necessário fazer hemodiálise. Graças a Deus, quando saí da UTI, os rins já estavam funcionando. Primeiras visitas que recebi na UTI foram da minha filha, lembro dela, mas só mexia os olhos, e um pouquinho da mão esquerda, apenas escutava áudios e mensagens de apoio e carinho de amigos e família. Minha família foi muito importante neste momento, tive sustento neles para melhorar.
Diziam para minha família que eu ia ficar vegetativa em cima de uma cama, sem falar, sem comer, mas quando estava no quarto, comecei a fazer fisioterapia, receber estímulos e soltar o braço. Descobri pela minha irmã, quando já movimentava mais o braço, que tinha perdido o cabelo. Quando dei alta, mexia o braço esquerdo e a perna esquerda, só sentava com ajuda.
Cheguei em Bagé usando fralda e após 10 dias minha fisioterapeuta me levantou e retirou a fralda. Daí pensei que podia melhorar. Tive um sonho que era pra ter fé, lutar e que iria conquistar. Hoje estou aqui falando que nada é impossível para Deus e para a família. Se não fosse pela minha filha e pelo Vilmar, não teria passado pelo que passei tão bem. A alegria da minha família, amigos, me dando força, desejando recuperação e as orações, me estimularam a melhorar cada vez mais”.

VOLTA AO TRABALHO – Doutora Ester, como é chamada em Hulha Negra, aproveitou o momento para anunciar que ainda está em fase de recuperação, mas que deu alta do INSS, está em férias do frigorífico Marfrig/Pampeano e que iria recomeçar a trabalhar na clínica.

Ela também contou sobre um curso feito em São Paulo. “Antes da pandemia, tinha 10 dias de férias do Pampeano para tirar e não sabia o que fazer, pois minha filha estava em aula e meu marido não poderia tirar. Me inscrevi em um curso de ecografia com duração de 10 dias, mas começou a pandemia e foi adiado. Já estava com o curso todo pago e com prazo para concluir em dezembro de 2021. O Vilmar foi comigo, de andador para São Paulo, ficar 15 dias, para fazer o curso. Deus é perfeito, não sabemos de nada”, relatou.

Ao TP, Ester ainda falou sobre a importância de retornar a clinicar. “Significa a consagração da vitória dessa fase que eu passei, e vitória que considero um milagre, pois com 1% de chance de sobrevida, me agarrei a isso e junto com Deus e a fé que nos moveu e força de vontade, vou retornar minha atividade”, concluiu

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