FEBRE AFTOSA

Sindicatos Rurais da região se manifestam sobre possibilidade da retirada da vacina

Em Pedras Altas, a presidente da entidade alertou para a questão de fiscalização e barreiras

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Paulinho Alves (D), de Pinheiro Machado, já solicitou nomeação de mais um funcionário na Inspetoria Veterinária Foto: Divulgação TP

A manhã desta quarta-feira (19) foi marcada por uma assembleia promovida pela Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) com representantes de entidades do setor, que debateram a possibilidade da retirada da vacinação contra febre aftosa no Estado. Na oportunidade, a maioria decidiu apoiar a continuidade do processo de antecipação. O placar da votação foi de 53 votos a favor e 11 contrários entre os representantes dos sindicatos rurais.

De acordo com o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, os produtores deram um voto de confiança para a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) encaminhar o pedido e fazer adequações no sistema de defesa animal até agosto – quando haverá consulta final sobre o tema. “Se até lá os requisitos forem cumpridos, bateremos o martelo sobre a retirada da vacina”, afirma o dirigente.

A lista envolve 18 recomendações feitas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) após auditoria técnica sobre a qualidade do sistema estadual de vigilância. O relatório foi apresentado ao setor agropecuário em janeiro.

Da região de cobertura do TP impresso, participaram do encontro, em Porto Alegre, membros dos Sindicatos Rurais de Candiota, Pedras Altas e Pinheiro Machado. Produtores de Hulha Negra, que pertencem à entidade bageense, também estiveram representados.

ENTENDA – A discussão sobre o assunto vem se intensificando desde a última semana quando a titular do Mapa, Tereza Cristina, deu o aval para o secretário gaúcho, Covatti Filho, antecipar a vacinação do rebanho bovino e bubalino contra a doença no Rio Grande do Sul.

Conforme repassado para a imprensa, a antecipação faz parte da estratégia do Estado para ser declarado como livre de aftosa sem vacinação, a fim de obter, num segundo momento, o reconhecimento internacional dessa condição pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). A intenção do governo estadual é realizar a última vacinação em março e obter a nova certificação em maio de 2021, junto com o Paraná.

Enquanto alguns especialistas comemoram que a mudança deve possibilitar a abertura de mercados internacionais, outros alertam para a necessidade de precisar redobrar a atenção a fim de evitar contaminações e, consequentemente, prejuízos aos produtores rurais.

VACINA EM 2020 – Conforme o chefe da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, a vacinação do rebanho será feita na primeira quinzena de março – diferente dos outros anos, que ocorria em maio e novembro. “O Rio Grande do Sul tem que ficar um ano sem vacinar para conseguir a retirada da vacina e precisamos fazer o pedido para o fim da imunização um ano antes do julgamento – que acontece no mês de maio. Por isso, precisamos vacinar o rebanho em março. Se fizéssemos a vacinação no período normal não conseguiríamos retirar em 2021, apenas em 2022”, explica Covatti Filho.

Apesar dos discursos confiantes no sentido de mudança de status sanitário, ele disse que a decisão será tomada em conjunto com todas as entidades da agropecuária gaúcha. O secretário também afirmou que a definição do início da campanha de vacinação só depende da disponibilidade dos laboratórios que produzem a vacina para determinar o dia exato.

PELA REGIÃO – Assim que terminou a assembleia, o presidente do Sindicato Rural de Candiota, Marco Antônio Marimon, e o secretário da Junta Governativa que responde pela entidade em Pinheiro Machado, Paulo Roberto Alves, fizeram contato com o TP. Ambos contaram que foram contrários à retirada da vacinação, mas explicaram os encaminhamentos do debate. “Depois de ouvir todos os argumentos, foram 53 votos a favor do governo do Estado para continuar encaminhando o pedido de retirada da vacina e 11 contra, mas não está nada totalmente decidido. Apesar de sermos contrários, em primeiro momento, acabamos entrando em um consenso de que é preciso dar um prazo para o Estado se readequar na questão de estrutura e outros pontos levantados na reunião para só então tomarmos uma decisão mais concreta”, informaram.

Ana Cândida Azeredo, do Sindicato Rural de Pedras Altas, disse que a posição da entidade também é contrária e justificou levando em consideração principalmente os desafios dos produtores locais. “No nosso entendimento, o plano estratégico de retirada da vacina contra a febre aftosa de 2017-2026 ainda não teve todas as cláusulas cumpridas por parte do Estado. O relatório do Mapa é importante sim, mas dois dos 18 apontamentos que eles fazem não foram cumpridos pelo Estado na íntegra. Fora isso, nosso posicionamento também se dá porque temos uma fronteira que durante seis meses do ano é seca e, desde 2012, não temos um mínimo de fiscalização ativa no município”, disse a presidente.

Ainda conforme explica a representante da entidade da Cidade do Castelo, há pouco tempo estão contando com um fiscal. “O Estado nos mandou um médico veterinário – frente a uma parceria com a Prefeitura de Pedras Altas, a qual está dando a sede e o administrativo; enquanto isso, o Estado entra com o profissional e o veículo. Isso nós não tínhamos há muitos anos por aqui, fazendo com que não exista também um levantamento de dados sobre a nossa região”, lamenta Ana Cândida.

Segundo ela, o Mapa ainda faz o apontamento diante da necessidade de barreiras e ela argumenta que em Pedras Altas essa realidade nunca existiu. “Aqui não existe barreira, estamos na fronteira e o que existe é um livre trânsito. Consideramos esse outro ponto extremamente importante de salientar, mas apesar disso, conforme decisão em assembleia, o Estado ganha essa chance de readequar até agosto para só então ocorrer a decisão final – o que é válido porque para haver mudanças é preciso um tempo realmente”, afirmou.

SOBRE A DOENÇA – De acordo com o Departamento de Saúde Animal do Mapa, a febre aftosa é uma doença infecciosa aguda que causa febre, seguida pelo aparecimento de vesículas (aftas) principalmente na boca e nos pés de animais de casco bipartido. A transmissão via aérea pode ocorrer sob condições favoráveis de clima e os animais adquirem o vírus ou por contato direto com outros animais infectados, contato com alimentos e objetos contaminados.

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