PRIVATIZAÇÃO

Venda da Usina de Candiota foi pauta no Legislativo local

Usina foi adquirida pela Âmbar Energia Foto: Arquivo TP

Na última segunda-feira (11), após a informação por meio de Fato Relevante, da conclusão da assinatura do contrato de venda do complexo termoelétrico de Candiota (Fase C), o único ativo a carvão da Eletrobras, que pertence a CGT Eletrosul por R$ 72 milhões a empresa Âmbar- pertencente ao mesmo grupo que controla a JBS – líder global em processamento de proteína animal, o assunto virou uma das principais pautas na Câmara de Vereadores e Vereadoras.

O vereador Adriano Revelante (MDB) manifestou esperança com a venda da usina. “Por um lado nos dá esperança de que possa nos ajudar a dar continuidade na Fase C que encerra contrato em 2024, mas também preocupa pela questão dos empregos das pessoas que ali estão. Mas foi vendida, nossa luta continua”, afirmou Adriano, lembrando que está marcada para o dia 26 uma audiência pública em Brasília para tratar da Lei de Transição Energética Justa e que conta com a presença máxima de pessoas que puderem se deslocar até Brasília.

Na sequência, o vereador e presidente da Câmara Marcelo Gregório (MDB) disse que essa é uma pauta que há bastante tempo preocupa moradores e trabalhadores. Ele afirmou que entre o fechamento e a venda que prefere a venda da usina. “Nós, mais do que ninguém, queremos que a vida da usina continue por muitos anos gerando emprego, desenvolvimento e renda para nosso município e região. Evidentemente prefiro a venda, porque ela é a possibilidade da continuidade desses empregos. Claro que agora precisamos conhecer a empresa, e já faço aqui um apelo aos vereadores para a criação de uma comissão para contatar os diretores da empresa para sabermos qual a política da empresa na geração térmica, na manutenção e ampliação dos empregos e sobre a política para o carvão”, expôs Marcelo”.

 

ARTIGO 25

 

A vereadora Luana Vais (PT) utilizou o artigo 25 como líder de bancada para também se manifestar sobre a venda da usina. Ela afirmou precisar reforçar que a venda da Eletrobras iniciou pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. “Todos sabem que foi vendida de forma criminosa, até o estatuto da empresa foi mudado, tanto que pelo novo documento o governo federal tem 40% das ações, mas com poder de voto de 8%. Precisamos falar sobre isso para as pessoas saberem, verem e aprenderem que voto tem consequência. A Eletrobrás foi vendida e agora terminada a venda da CGT Eletrosul. Muitos falaram que foi no governo Lula a venda, mas não, isso foi uma política do ex-presidente que precisa ficar clara. Infelizmente, o governo federal não conseguiu reverter essa questão e reestatizar a Eletrobras. Isso me preocupa, inclusive, com a Companhia Riograndense de Mineração, a CRM e com os empregos. Já se fala em redução de salários e pessoas, e isso a gente sabe o reflexo que vai ter na sociedade”.

 

EXECUTIVO

 

O TP entrou em contato com o prefeito de Candiota, Luiz Carlos Folador para falar sobre o tema. Questionado a fazer uma avaliação sobre o futuro da usina e do município, o gestor diz ser positiva. “O grupo tem usina no Mato Grosso e Uruguaiana, são do ramo da geração de energia maior que a Eletrobras. Estamos otimistas, pois a Âmbar adquiriu o ativo para manter a usina em funcionamento na sexta-feira e nesta semana já teremos reunião com um representante da empresa. Nossa preocupação agora é que ela funcione até 2050, período de vida útil da usina. Essa é uma pauta que unifica toda cidade e certamente a Prefeitura vai sugerir alternativas de investimentos para a empresa”.

 

SOBRE A VENDA

 

A Centrais Elétricas Brasileiras S/A (Eletrobras), que foi privatizada em meados de 2022, informou aos seus acionistas e ao mercado em geral, por meio de Fato Relevante assinado pela vice-presidente Financeira e de Relações com Investidores, Elvira Cavalcanti Presta, que no feriado de 7 de setembro, concluiu a assinatura de contrato para a venda do complexo termoelétrico de Candiota (Fase C). A Usina de Candiota, com capacidade instalada de 350MW, foi vendida para o grupo Âmbar Energia SA. O valor da negociação, segundo a nota divulgada, é de R$ 72 milhões.

O posicionamento dos Sindicatos

 

Quanto à mineração e o carvão mineral, dois sindicatos costumam estar atuantes em Candiota, o Sindicato dos Mineiros e o Sindicato dos Eletricitários do Rio Grande do Sul (Senergisul). O Tribuna do Pampa procurou representantes das duas entidades para falar sobre o tema da venda usina.

 

SENERGISUL

 

A diretora estadual do Senergisul, Cristina Gonzales, questionou a venda da Usina, lembrando os investimentos feitos na construção da Fase C. “Foi um investimento aproximado de R$ 1,5 bilhão. A usina entrou em operação em janeiro de 2011, sempre com constância de geração para 1 milhão de pessoas e direito de comercialização até 31 de dezembro de 2024. As usinas térmicas garantem segurança energética, outro motivo para que não fosse permitida à venda da Fase C. Em casos de apagões precisamos de energia e a Candiota 3 é pra isso. Porque vender por um valor tão abaixo do investido no projeto? O Brasil tem 6% de matriz energética fóssil contra 87% no resto do mundo. Outros países voltaram a usar usinas térmicas a carvão para manter a segurança energética. Temos vários questionamentos que precisam de respostas”, explanou.

 

SINDICATO DOS MINEIROS

 

O jornal contatou o presidente do Sindicato dos Mineiros, Moises Rodrigues. Ao falar sobre o tema ele fez ponderações. “O Sindicato é contra a venda de patrimônio público, mas pensando em termos de município, de mina e mineração, a venda da usina nos traz esperança, porque acredito que pela Eletrosul poderia haver o encerramento das atividades e com um novo comprador não faria um investimento sem perspectivas. Os empresários sabem que a usina tem condições de continuar gerando energia e vão seguir gerando. Isso pra nós é importante, pois no momento em que produzem energia, produzem emprego”.

O TP também conversou com Hermelindo Ferreira, ex-presidente do Sindicato e bastante atuante no que se refere à criação da Lei de Transição Energética Justa. Ele afirmou que ainda buscam entender o caminho a ser seguido pela Âmbar Energia, mas disse ver futuro positivo nesse processo. “Somos servidores de uma empresa pública e defendemos o trabalho como a metodologia mais digna para o trabalhador das empresas públicas, principalmente porque nestes casos fizeram concursos. Por outro lado trabalhamos intensamente nos últimos tempos para manter a usina funcionando como principal cliente da Companhia Riograndense de Mineração, a CRM, e que tenhamos um horizonte pós 2024. Vislumbramos que a aquisição da usina tenha longevidade, que é o que buscamos com a criação da Lei de Transição, para que consigamos levar pelo menos até 2040, para que se crie dentro desse período, algumas alternativas para a nossa região, principalmente para Candiota. Sabemos que a Âmbar é detentora de um grupo muito forte, apesar de estar com problema no gás na Bolívia, e por certo eles vão precisar da energia produzida pela Fase C”.

ORIGINALMENTE ESTE CONTEÚDO FOI PUBLICADO NO JORNAL IMPRESSO*

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