NOVA INDÚSTRIA

Candiota também quer ser capital do carvão para churrasco

Líder nacional na exploração do carvão mineral, município terá também indústria na versão vegetal

Já há produção e expectativa é produzir 200 mil quilos por mês

Já há produção e expectativa é produzir 200 mil quilos por mês Foto: Fotos: J. André TP

Ostentando o título de Capital Nacional do Carvão Mineral, Candiota agora está ganhando uma indústria de carvão vegetal. Confundido por muitos, o carvão mineral e vegetal tem no fundo a mesma origem, qual seja, as florestas, porém diferem na formação (ver quadro).

Proprietário, juntamente com a família, de uma área de mais de 850 hectares, a fazenda São Francisco – localizada a cerca de quatro quilômetros aos fundos da Vila Operária -, João Henrique Herzer Quintana e o filho Rafael Henrique de Souza Quintana, viram uma grande oportunidade a partir da iniciativa dos parceiros que arrendam a maior parte de suas terras para o plantio de acácia negra.

Rafael e João Quintana são os proprietários do Carvão Candiota

Rafael e João Quintana são os proprietários do Carvão Candiota

Segundo João, esses parceiros (que preferem não aparecer), resolveram transformar os 700 hectares de florestas de acácia – que estão prontas para o corte, em carvão vegetal, o bom e tradicional carvão para churrasco – tão usado e querido dos gaúchos.

Para tal, já conseguiram todo o licenciamento ambiental junto a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fepam) e estão construindo 40 fornos para a produção de 200 mil quilos de carvão vegetal por mês. “Inicialmente eles tinham a ideia de vender o produto sem qualquer beneficiamento para outras indústrias de carvão vegetal. Então propomos que nós faríamos este processo aqui mesmo em Candiota e na própria propriedade, comprando deles boa parte da produção”, explica.

João Quintana, juntamente com a esposa Lucelaine Soares, já é dono de uma fábrica de embutidos, principalmente linguiças com variados sabores, e de uma boutique de carnes no centro de Candiota. Ele brinca que agora poderá oferecer o churrasco completo, da carne ao carvão.

Estão sendo construídos 40 fornos

Estão sendo construídos 40 fornos

JÁ PRODUZINDO – A reportagem do TP visitou a fazenda e pode constatar como já está sendo feita a produção do carvão. A construção dos fornos, que são feitos de forma artesanal, utilizando tijolos de barro e argila ao invés de cimento, está neste momento em sua primeira fase. Os fornos ficam em meio a floresta.

Conforme o pinheirense Leonardo Lopes da Luz, que é o responsável de campo para a produção do carvão, neste momento estão sendo construídos as primeiras 20 unidades. Na segunda fase, que é em breve, será construído os outros 20. Os fornos estão sendo erguidos por um pessoal especializado de Montenegro (RS), que produz um a cada três dias. Terminada a construção, imediatamente os fornos já entram em operação com a queima da madeira. Então, neste momento, já há uma produção considerável do produto. “Além do carvão, que é nosso principal produto, também vendemos a casca para a indústria de tanino”, lembra Leonardo.

O responsável ainda fez questão de reforçar que desde o manejo da floresta, que é certificada, bem como, o restante do processo, tudo é feito dentro do mais alto padrão e atendendo as legislações ambiental e trabalhista.

INDÚSTRIA – Conforme João Quintana, o embalo do carvão deve iniciar já neste mês de maio. Para tanto, está sendo erguido um galpão metálico de 170m², que irá abrigar a indústria. Ele já projeta a construção de outra estrutura do mesmo porte, assim que a produção avançar.

Uma máquina com capacidade para embalar 5 mil quilos de carvão por dia já foi adquirida e nos próximos dias deverá ser instalada. “Estamos inicialmente querendo embalar este montante por dia, o que daria uma carreta diária”, ressalta Rafael.

Com os atuais 700 hectares de floresta, se projeta uma produção para 6 anos. Além do carvão, a indústria irá vender a munha (pó de carvão) para a indústria de cosméticos. “O pó é um subproduto que possui muito valor”, salienta o jovem empresário.

O carvão já possui marca e se chamará Candiota – nome escolhido justamente por agregar lembrança e tradição ao carvão, embora esta identidade seja pelo carvão mineral.

Todos os recursos para a montagem da nova indústria são próprios e não há dependência de financiamentos de qualquer espécie.

QUALIDADE – Testes realizados com o carvão já produzido em Candiota mostram que ele é de altíssima qualidade, segundo relatou João Quintana.
Além de ser oriundo de acácia negra, que é uma madeira muito apropriada, o produto possui três características fundamentais para a qualidade, que é o brilho, a baixa munha e tamanho.

São 700 hectares de acácia negra que já  estão sendo cortadas

Estrutura interna do forno para a queima das acácias

Além disso, ele destaca que o pessoal que opera os fornos também possui muita experiência e sabem fazer a queima no tempo e forma exatos.

EMPREGOS – Desde o corte das árvores, o transporte, a queima e o embalo, a projeção é a criação de 35 empregos diretos no processo, com tendência de aumento deste número. Todos eles de pessoas da região. Em relação aos indiretos ainda não há uma projeção.

MERCADO – Parte da produção bruta será vendida para uma indústria de Piratini e o restante a indústria candiotense irá absorver. João Quintana destaca que é um mercado bastante promissor. Ele pontua que somente Bagé tem um consumo mensal de 70 mil quilos de carvão.

Além disso, Rafael lembra que o preço do produto final aos consumidores da região será abaixo do praticado atualmente, em função da logística empregada ser menor. “Nós vamos conseguir colocar o produto aos consumidores em menos tempo e com custo mais acessível”, disse.

MUNICÍPIO – O prefeito de Candiota Adriano dos Santos (PT) está comemorando mais este empreendimento, que vem ao encontro da política adotada pelo atual governo, que é do desenvolvimento endógeno (de fora para dentro), além de se criar alternativas econômicas.

O prefeito deve entregar em breve aos empresários o licenciamento ambiental da parte do embalo do carvão, bem como, se compromete em sempre manutencionar a estrada de acesso ao local, para o escoamento da produção, entre outras demandas necessárias. “Além de levar o nome de Candiota, vai gerar empregos e impostos para o município”, salientou o prefeito.

Diferenças e semelhanças entre o mineral e o vegetal

Carvão mineral

Carvão mineral

Carvão vegetal

Carvão vegetal Foto: J. André TP

O carvão vegetal é obtido queimando-se madeira na presença de pouquíssimo oxigênio, enquanto que o mineral é um tipo de pedra que, ao longo de milhões de anos se formou através de altas pressões no interior da Terra.

O carvão mineral é obtido diretamente da natureza e pode ser do tipo turfa, linhito, hulha e antracito. Tanto um como o outro tem origem biológica, ou seja, da madeira.

A diferença entre os dois é que o carvão vegetal é madeira recente e o mineral foi produzido há milhões de anos, geralmente no Carbonífero (há mais de 200 milhões de anos) e passou por uma série de processos geológicos que converteram sua estrutura biológica em uma estrutura inorgânica – princípio semelhante aos fósseis. O resultado disso é uma rocha riquíssima em carbono que pode ser queimada e atinge altas temperaturas (por isso sua importância na indústria).

O vegetal é utilizado, principalmente no Rio Grande do Sul, para fazer churrasco (carne assada). Já o mineral é utilizado, notadamente, para geração de energia e não pode ser usado para culinária, em função das toxinas que libera, como o enxofre.

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