DESENVOLVIMENTO

Indústria de pellets é esperança de futuro para Pinheiro Machado

Município vive a maior crise de sua história e pode em poucos anos praticamente dobrar sua arrecadação com este investimento

Entrega da licença foi feita pelo governador Sartori, no Palácio Piratini

Entrega da licença foi feita pelo governador Sartori, no Palácio Piratini Foto: Roberto Witter/Especial TP

O município de Pinheiro Machado vive a maior crise econômica dos seus 140 anos de emancipação. Desde meados do ano passado que o funcionalismo municipal vem recebendo com atraso. Segundo a Prefeitura, apenas 60% dos salários do mês de maio serão pagos até o dia o 10 de julho. Há previsões que se chegue ao fim do ano com o atraso salarial em três meses. Além disso, há muito o vale-alimentação dos servidores não é pago, dívidas com fornecedores se acumulam, o fundo de pensão está falido e serviços básicos estão precarizados. Entre outros fatores, a queda na arrecadação local é preponderante para o aprofundamento da crise.

Contudo, a entrega da licença ambiental prévia (LP) na tarde da última quarta-feira (4) em ato concorrido no Palácio Piratini, em Porto Alegre, para a implantação da maior indústria de pellets do mundo no município, traz muito mais que um alento, uma esperança para que a cidade reverta a situação e se torne em pouco tempo um polo de desenvolvimento e geração de empregos na região.

O ato de entrega da LP emitida pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) para a empresa atesta a viabilidade ambiental do projeto e abre caminho para que o empreendimento se viabilize.

O projeto da empresa Pellco Brasil, de propriedade do empresário Luiz Eduardo Batalha – que já mantém uma planta industrial de azeite e azeitonas no município, prevê investimento de R$ 1 bilhão com a participação de empresas nacionais e estrangeiras. O financiamento deve ser viabilizado pelo Fundo Castlepines Corporation, com sede em Londres. Em setembro do ano passado, em visita à Pinheiro Machado, o sócio-fundador do fundo, David Grose, garantiu o aporte dos recursos.

O prefeito Zé Antônio conversou com o TP e é claro em tom de comemoração, avalia, sem exageros, que a implantação se torna uma espécie de tábua de salvação para a economia local. Com cautela, o prefeito destaca que na implantação a situação de arrecadação municipal deve melhorar com a entrada do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), mas que a grande expectativa é para quando a indústria estiver em funcionamento, com o retorno do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). “O que se projeta é que o município quase dobre a arrecadação, passando dos atuais R$ 40 para R$ 70 milhões por ano”, assinala, destacando o papel de vanguarda do empresário Batalha, que já tem no município uma indústria pioneira de azeite, além de visão ambientalmente correta.

Da mesma forma, o presidente da Câmara de Vereadores Jaime Lucas classifica como um novo tempo que a cidade irá viver. “Estou feliz como cidadão pinheirense e muito mais feliz como presidente do Legislativo por poder ter participado desde o início desse processo e ver que agora sim há um encaminhamento legal para que de fato aconteça. Fico feliz de ver que o Governo do Estado fez toda a parte dele e que o empresário Batalha está sendo incansável. Agora quem mais tende a agradecer por isso tudo é o município e a população. Esse é o empreendimento que vai nos tirar do sufoco financeiro. É um novo tempo que nós estamos inaugurando aqui, e é pra toda a região”, destaca.

Além do prefeito e do presidente da Câmara, o ato contou com grande mobilização de lideranças políticas e econômicas da região. Acompanharam a entrega os deputados estaduais Fábio Branco (MDB), Ernani Polo (Progressistas), Liziane Bayer (PSB) e Zilá Breitenbach, o vice-prefeito do município, Jackson Luiz Fagundes Cabral; os vereadores Wilson Lucas (PDT), Adão Martinho (PSDB), Renato Rodrigues (PSDB), Gilson Rodrigues (PT), Sidney Calderipe e Fabrício Costa (ambos do PSB), além do prefeito de Pedras Altas, Bebeto Perdomo (PSB).

Governador agradeceu Batalha por jamais ter pressionado  o governo e ajudado na construção do processo

Governador agradeceu Batalha por jamais ter pressionado
o governo e ajudado na construção do processo Foto: Dani Barcelos/Especial TP

LICENÇA – O governador José Ivo Sartori (MDB), que fez a entrega da LP, comemorou a construção de um sistema de licenciamento pela Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, que não atrapalha a vontade de quem quer investir e gerar emprego no Rio Grande do Sul. “Não criamos obstáculos, mas condições através do diálogo e entendimento. Para nós, a formação de emprego, de trabalho e renda para as pessoas é extremamente importante. O licenciamento é uma construção coletiva, dos empreendedores, dos municípios e do Estado. Entregar essa licença, para mim, é uma satisfação enorme porque os empreendedores sempre respeitaram esse processo. O tempo médio para liberação de licenças passou de 900 para 90 dias, e isso sem prejudicar o ambiente e a preservação da natureza. Acredito, sim, que esta é uma maneira de modernizar o Estado e oferecer as condições necessárias àqueles que querem investir no RS”, afirmou.

“Todo mundo sabe a diferença que faz uma energia de qualidade e barata para uma comunidade. Estamos colaborando com isso para um planeta mais limpo, mais seguro, com mais oxigênio para as próximas gerações. A gente percebe que esses conceitos ambientais não são mais uma teoria, não atravancam os processos, mas estão fazendo com que o homem invista de forma sustentável. Qualquer empreendimento que precisar de licenciamento, hoje, temos técnicos capacitados que vão produzir uma licença de qualidade e que respeita a legislação”, reiterou a secretária do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ana Pellini.

O processo para licenciamento deu entrada na Fepam no dia 31 de janeiro deste ano e foi analisado no Relatório Ambiental Simplificado, seguindo as premissas da Resolução Conama 279/2001, para empreendimentos de geração termoelétrica com impacto ambiental de pequeno porte.

Luiz Eduardo Batalha, durante o evento enalteceu o fato do empreendimento ser ambientalmente sustentável. “Temos 45 anos de agronegócio, somos uma empresa que se mantém com um trabalho de qualidade e coragem. Ninguém pode competir com a gente no campo florestal, temos gente de muita competência que sabe muito sobre madeira. E, para se ter uma ideia, o pellet é uma energia limpa e renovável. De pellets, apenas 27 milhões de toneladas são produzidos atualmente. Então, vamos partir tranquilamente em um mercado que vai fazer com que puxe toda essa sujeira. A gente tem muito a crescer, agradecemos a oportunidade de investir no RS”, disse.

A INDÚSTRIA – Na primeira fase se pretende produzir 900 mil toneladas de peletts por ano (o projeto prevê ainda outras duas fases, que ao cabo produzirão 1,8 milhão de ton/ano), com o corte de 5 mil hectares de floresta anualmente. Além disso, a planta produzirá sua própria energia com a implantação de uma central termelétrica com produção de 50 megawatts (MW)/hora, consumindo uma parte e vendendo o excedente. Na termelétrica, que será a primeira a ser construída, além de peletts, será utilizada a casca das árvores cortadas, os galhos e folhas resultante do corte, além de casca de arroz.

A indústria inicialmente pretende gerar 150 empregos na planta industrial (110 na produção de pellets e 40 na termelétrica), bem como, cerca de 650 na colheita da madeira, que será toda mecanizada, perfazendo 800 empregos diretos. Na fase de construção é projetado 1,5 mil empregos diretos.
A Pellco já adquiriu uma área de 137 hectares para instalar a indústria, que fica a cerca de dois quilômetros da Vila Umbus (comunidade localizada ao lado da Fábrica de Cimentos da Votorantim). O local, muito privilegiado, tem a estrada de ferro passando praticamente dentro da propriedade. A 50 metros está a BR-293 e a cerca de um quilômetro da divisa com o município de Candiota.

O próximo passo agora é a obtenção da licença ambiental de instalação (LI) junto a Fepam para dar início às obras de implantação da indústria. Há uma expectativa que a LI seja emitida até o fim do ano e que em 2019 as obras sejam iniciadas.

Após o evento, lideranças da região e do Estado, posaram para uma foto oficial

Após o evento, lideranças da região e do Estado, posaram para uma foto oficial Foto: Dani Barcelos/Especial TP

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